segunda-feira, 4 de julho de 2011

Fortaleza, meu amor: a memória de um povo nômade

O documentário de Pedro Carlos Alvares é uma prova de afeto e compromisso com a terra em que nasceu. A câmera do diretor mostra uma capital que vez por outra ainda conserva seu ar de vila provinciana. pedro Alvares é perceptivelmente um daqueles seres humanos de alma inquieta, como ele mesmo se intitula é um agitador cultural.





A ideia de filmar "Fortaleza, meu amor" veio da percepção sobre a forma como os cearenses, em sua maioria, se relacionam com seu espaço. Como ele mesmo citou na entrevista: "somos um povo nômade, não fincamos raizes, somos uma espécie de ciganos, não temos compromisso com a memória, não temos apego". por isso o documentário se faz pertinente, no sentido de que salva em algum lugar algo que produziu e ainda produz significados para uma determinada época, para um determinado grupo de pessoas.

O documentário começa com a imagem da antiga ponte e ao fundo a música "longarinas" de Ednardo. A câmera de Alvares se mexe como quem busca esse centro que foi aos poucos esquecido, mas que ainda sobrevive através de quartoze edificações que se sobrepõe ao tempo e a especulação imobiliária. São estas: a antiga ponte, prédio da Alfândega, Casários do Dragão, Sefaz, Décima Região, Catedral, Palácio do Bispo, Palácio do Comércio, Museu do Ceará, Passeio Público, Sobrado José Lourenço, Praça do Ferreira, Theatro José de Alencar e Estação João Felipe. Um número reduzido se comparado a outros estados como Recife e Rio de Janeiro que possuem´a cultura de preservar a memória de seu povo.

O média-metragem descortina Fortaleza através do olhar e da memória de políticos e intelectuais. Como : Ubiratan Aguiar, Norez (Miguel Ângelo), Juarez Leitão, Lustosa da Costa e Romeu Duarte que com suas histórias levam o espectador para dentro do "umbigo da cidade" o centro. É possível ouvir histórias como a de Paulo Laranjeira, urbanista famoso que se suicidou por uma desilusão amorosa, o bode ioiô e tantas outras que já fazem parte do imaginário cearense. Ainda é possível encontrar no vídeo como ocorreu a formação da praia de Iracema, do Jacarecanga e da Gentilândia. Além de explicar quais foram os impactos da reorganização geográfica do centro de Fortaleza.


A apresentação do documentário aconteceu no famoso "Raimundo dos Queijos", único local onde seriam feitas as gravações, inicialmente, mas depois a ideia tomou uma proporção maior e Pedro Alvares entendeu que precisava mostrar o centro, no qual o "Raimundo dos Queijos" está inserido e faz viver com domingos regados a música e camaradagem. O centro respira e sobrevive por que pessoas com iniciativa se juntam e vão apreciar esse caldeirão de cultura, boêmia e memórias.


No dia da apresentação do documentário foram vendidas as 500 cópias produzidas, prova de que os filhos da "Terra do Sol"apesar da herança nômade em seu sangue, também são ávidos por libertar suas memórias, por conhecer seu passado que insiste em não morrer. Que sobrevive ao descaso e ao descompromisso dos homens com a própria história.



A poesia de Otacílio Colares cai como uma luva para descrever o trabalho feito no documentário de pedro Carlos Alvares:



É preciso acordar para ver o amanhã



É preciso que os de ontem, compreendam:



As cidades são tal como crianças - nascem, brincam a crescer, sonham e abrem caminho.



Inútil fazê-las parar.


Venham agora as crianças


E os jovens


E os adultos válidos


E os sonhos novos


E os planos novos


E as novas esperanças.


Mas não vamos pecar sobre as velhas lembranças, que lembranças são saudade e são exemplos, e o futuro sem passado é negação do presente.