terça-feira, 12 de outubro de 2010

MIXÓRDIA


MIXÓRDIA
mistura, desordem e fragmentos.

Em MIXÓRDIA têm-se a impressão de estar inserido dentro da peça, em alguns momentos não se sabe se existe uma plateia, ou se todos ali estão fazendo teatro. De uma forma gradativa o público passa a ser um personagem da peça. SILVERO PEREIRA ,o diretor, afirma que acredita no Curso Princípios Básicos de Teatro não como vitrine,como porta, mas sim como parto, nascimento.Ele inclusive já foi aluno e agora é professor, em um processo que chama de re-aprendizagem.
O Curso Princípios Básicos de Teatro – CPBT foi criado em 1991 pelos professores (atores e diretores) João Andrade Joca e Paulo Ess, é uma ação conjunta das secretarias estaduais da Educação/Seduc e da Cultura/Secult. Tem atualmente três turmas nos horários da manhã, tarde e noite realizando cursos, oficinas, palestras, conferências, seminários.
Para criar MIXÓRDIA, a turma do CPBT-Noite-2010 partiu de uma pergunta: O que eu, como artista,quero falar? Assim surgiu um texto de várias mãos, de inquietações diversas e de muitos erros e acertos. Inspirado em contos de Nelson Rodrigues (1912-1980), a peça “MIXÓRDIA”, como seu próprio significado, é uma mistura, desordem e fragmentos. O espetáculo fala dos bastidores de uma Companhia Teatral, mais que isso, ele expõe a vida dos artistas, revelando angústias, processos criativos, momentos profissionais, pessoais. O limite entre arte e vida.

sábado, 9 de outubro de 2010

CINEMA DOCUMENTAL.






O cinema documental e seus resgates.
Por Sheyla Castelo Branco

O Documentário é um gênero cinematográfico que se caracteriza pelo compromisso com a exploração da realidade. Esse gênero vive hoje, uma verdadeira efervescência tanto na produção como na pesquisa. Apesar de ainda não desfrutar dos grandes investimentos da indústria cinematográfica, nem tampouco obter o sucesso comercial de alguns filmes o número de produções tem crescido, chegando às salas de cinema mundo afora.
Segundo o premiado cineasta francês Jean-Claude Carriére “ a realidade não é suficiente, o imaginário precisa introduzir-se na realidade, desfigurá-la e intensificá-la”, mas a sensação que temos ao assistir UMA NOITE EM 67 e MASSAFEIRA LIVRE (festival de amostragem), é de que a realidade é tudo que precisamos para estar presos a uma cadeira , com o queixo caído assistindo ao que uma geração foi capaz de fazer usando apenas a arte, a música e a vontade de criar.
UMA NOITE EM 67, é um documentário dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil, ambos profissionais inseridos no mercado de trabalho.Para Ricardo que é diretor de redação da revista Trip e crítico de cinema da Folha de S. Paulo, eles fizeram um documentário que não dá muitas respostas prontas, opiniões fechadas. Mas uma experiência. A pessoa Não vai sair de lá sabendo de tudo sobre o que aconteceu na época, mas se interessará por aquilo a partir do filme, afirmam.
O documentário mostra os bastidores do 3º Festival de Música Popular Brasileira, que ficou conhecido como o melhor festival de todos os tempos. Nessa mesma época entrava em cena na música brasileira o pop, que misturava o erudito e o popular e discutia questões estéticas e políticas. Era o tempo de revolucionar, tanto na música como nas roupas e no comportamento. Um exemplo foi Gilberto Gil, que antes de se apresentar com a música “domingo no Parque”, teve um ataque de pânico, pois não sabia de que lado se posicionar, estava dividido entre as canções de protesto e o protesto colorido de Caetano, o tropicalismo.
Já em MASSAFEIRA LIVRE (festival de amostragem), temos um documentário de 19 minutos,com a direção de Robério Araújo, incluindo entrevistas com intelectuais, cantores ,compositores e artistas da época, foram entrevistados o historiador Wagner Castro, Rosemberg Cariry, Ednardo Rodger Rogério, Augusto pontes, Teti , Rogério , Régis Soares, Gentil Barreira, Siegbert Franklin, Lúcio Ricardo, Alano de Freitas e Oswald Barroso.
“Eu fazia parte dos movimentos de contra-cultura, e fui convidado a participar das reuniões que antecederam a Massafeira, eram reuniões muito vivas,muito agitadas, que juntavam toda a galera que queriam fazer uma cultura independente, uma cultura expressiva.” Afirma Oswald. Para Augusto Pontes, idealizador do evento junto com Ednardo, “A Massafeira surgiu da existência de uma certa tradição musical, pois o núcleo fundamental da Massafeira era o teatro e a música,principalmente música.”
Massafeira Livre aconteceu no Ceará, em 1979, o Teatro José de Alencar abriu suas portas durante 4 dias, para mais de 400 artistas, dentre músicos, poetas, atores, dançarinos, artistas plásticos, fotógrafos e cineastas, engajados em apresentar suas manifestações artísticas autorais. Foi um movimento cultural coletivo, que envolveu um grande público e revolucionou o conceito das apresentações tradicionais. Foi na Massafeira que se obteve o primeiro registro de voz do grande poeta Patativa do Assaré, recitando “Seu Dotô”. Foram quatro dias de muita energia, em todos os cantos tinha-se amostras de arte de todas as formas,foi uma espécie de curadoria espontânea, o que ocorreu naquela época.
Atualmente foi feito um encontro no Teatro José de Alencar, que aconteceu de 18:00 até as 6:00, foram várias apresentações, audiovisual, músicas, teatro, dança, dentre outros. Sobre esse intercâmbio com o novíssimo Pessoal do Ceará, Ednardo acredita que é importante que os artistas de sua geração se envolvam musicalmente com os atuais e trabalhem juntos também nos palcos. “Creio que os integrantes do ManiFesto vão dar uma gigantesca contribuição ao evento, com o mesmo entusiasmo que ocorreu na Massafeira”, aposta o compositor. “É uma nova galera que está surgindo e pode dar continuidade ao espírito da Massafeira, essa energia de estoque que o sol tem para se pôr e nascer no dia seguinte”.
É interessante como as linguagens dialogam umas com as outras, e como o tempo passa rápido, após 31 anos da MASSAFEIRA e 43 do Festival de música de 67, temos pessoas que se interessam por resgatar esses importantes acontecimentos. E que de alguma forma deixam para a posteridade acontecimentos que fizeram história. É o cinema resgatando a história de um povo que é feliz, mesmo convivendo com a dor, um povo que ri, que canta, que cria, que luta, e principalmente que faz história.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Sindicato dos Jornaleiros


O Jornaleiro e as conquistas do Sindicato

Francisco Aragão Marques tem uma alma límpida, suas pupilas parecem brincar a todo instante, dando-lhe um olhar peculiar, bonito e doce. Mas não nos enganemos, este homem com alma de menino, jeito ágil, é um batalhador. Aragão como é mais comumente chamado, tem uma banca de jornais e revistas na Praça do Ferreira. A famosa “Banca do Aragão”, que fica logo ao lado do Dudas Burguer.
Na década de setenta ele trabalhava como securitário (vendedor de seguros), mas decidiu deixar o emprego, sem saber bem que rumo iria tomar. Em certa ocasião passava em frente a banca que hoje é sua, e viu a placa de venda, sentiu uma vontade genuína de comprar, mas não possuía os recursos necessários, foi então que um dia viu a placa de aluga-se na mesma banca, e o negócio deu certo. Ele passou cinco anos sendo arrendatário. Nesse tempo, como ele mesmo afirma, a profissão de jornaleiro já estava dentro dele.
Aragão participava de todas as reuniões da Associação dos Jornaleiros, era um membro ativo da associação, chegando a se tornar presidente do Sindicato dos Jornaleiros, suas atividades no sindicato foram em torno de 18 anos. Ele diz que só saiu da luta sindical por conta de sua saúde, Aragão é hipertenso e por isso também contratou uma ajudante, mas quando começou trabalhava sozinho, muitas vezes chegava a fechar a banca, para poder ir as reuniões do sindicato.
Quando fala do sindicato seus olhos brilham e ele gesticula de forma mais intensa, percebe-se uma alma política. Das muitas lutas na época de sindicato , uma das vitórias foi o aumento da comissão , algo que era em torno de 5%, foi aumentando para 10%, 15% até chegar hoje aos 25 % por cento. Tal feito só foi possível por conta da greve nacional dos jornaleiros, o sindicato dos jornaleiros junto com a federação negociava com os editores.
Aragão reclama dos movimentos hoje em dia, que estão muito fracos, para ele de um modo geral os sindicatos no Brasil estão perdendo a força, por falta de iniciativa das pessoas, falta de participação nos, ele diz que há uma dormência nos ânimos, como se estivessem todos anestesiados, sem forças.
Uma de suas frustrações foi não ter conseguido uma sede para o sindicato dos jornaleiros, que até hoje se situa na ACI (Associação Cearense de Imprensa), quem paga o aluguel são os próprios jornaleiros, que tem um percentual x sobre o salário, que todo mês é descontado na nota da distribuidora.
Outra preocupação do jornaleiro são os dirigentes das regionais que segundo ele sempre tiveram uma visão muito pequena dessa atividade, “Na banca nós vendemos cultura, uma banca de revistas dessa substitui uma secretária de turismo, praticamente.” É o que afirma Aragão.
Aragão é um dos poucos que começou com uma banca e continuou apenas com uma, ele diz não ser ambicioso, da renda de sua banca conseguiu educar seus quatro filhos, e sempre foi feliz com o que tinha. A confirmação dessa verdade é absoluta em cada gesto desse jornaleiro, que fala com tanta empolgação de sua profissão, e parece estar sempre sorrindo, isso é uma verdade irrefutável.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Airton Maranhão- O Escritor do Fantástico.


Um advogado escritor, ou um escritor advogado. Conversando com Airton Maranhão fica difícil definir qual é a profissão e qual é a vocação. Para este russano, originário de uma família de músicos as duas coisas se completam. Seu interesse por advocacia veio por dois motivos, o primeiro, a possibilidade de ajudar as pessoas, e segundo por sua sobrevivência. Já a escrita é pura entrega. Airton afirma, que se não pudesse escrever,certamente morreria, pois é escrevendo que ele salva sua própria vida. E ainda afirma sobre o ato de advogar e de escrever, “um inspira e o outro constrói, um destrói e o outro disfarça.”
O autor do romance Moderno “Os Mortos Não Querem Volta”, deixa-se revelar naturalmente, com gestos simples, transparece uma sensibilidade aguçada, perto de Maranhão têm-se a impressão de que a qualquer momento estaremos dentro de uma de suas estórias ou poesias. A narrativa fantástica povoa os escritos do poeta, que cria personagens símbolos.
Nas palavras do Jornalista, ficcionista e poeta, José Alcides Pinto: “Airton Maranhão escreveu uma obra-prima da ficcão brasileira; completa, altamente significativa e dramática em todos os sentidos.” tendo sido objeto de estudo das alunas de letras da UECE(Universidade Estadual do Estado do Ceará) Renia Maria Bezerra Reis e Maria do Socorro Fonteles G. Pinheiro e do Mestrando em Letras Vérnaculas (Literatura Portuguesa) na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Otávio Rios .
Airton é membro e fundador da ARCA (Academia Russana de Cultura e Arte). Já publicou cinco livros, dentre eles estão: Deusurubu, Admirável Povo de São Bernardo das Éguas Ruças, O Hóspede das Eras, A Dança da Caipora e Os Mortos Não Querem Volta. Ele confessa ter uma queda por literatura de cordel, com várias publicações nessa área, a mais recente de título “Greve no Fórum”. Airton transita com muita facilidade entre as várias formas de literatura. Com o dom da palavra consegue criar um universo dentro de outro.
Rachel de Queiroz, a primeira mulher a integrar a Academia Brasileira de Letras, declarou : “Airton é o único escritor que se conhece no mundo que escreveu um romance folclórico”, se referindo ao livro “A Dança da Caipora”.
Contando de suas peripécias na infância e de como adquiriu o gosto pela leitura, este homem de poste médio e de um olhar cheio de signos, lembrou de seu vizinho, Dr. Estácio, um dentista dono da biblioteca que fez parte da imersão de Airton no mundo das letras, era a porta de entrada ao paraíso.
Airton criou uma estória sobre o vaga-lume e a lua, uma metáfora, em que numa conversa : a lua esnoba o vaga-lume por este ter uma luz fraca em relação a dela, o vaga-lume por sua vez, faz uma afirmação que toca o nosso escritor: “a luz pode ser fraca, mas é minha”. A estória virou até música.
Nosso poeta se vê como aquele vaga-lume, cheio de uma luz-própria, ele não se importa com “a lua” que brilha radiosa a sua frente, mas sim com sua necessidade urgente de escrever o que lhe toca a alma. Escrevendo com sangue e suor, no processo de inspiração e transpiração. O poeta diz que muitas vezes deixa-se abandonado escrevendo madrugadas a dentro. Porque é dessa forma que ele consegue salvar-se.
Um olhar observador se espelha atrás dos óculos que refletem uma alma simples, é dessa forma que Airton Maranhão vai tecendo seu Perfil para esta entrevista, com bom humor e sinceridade ele falou de si mesmo, sem perder a modéstia. Aqui temos um daqueles iniciados que tem sensibilidade para apreender o sentido das coisas e também para criar significados para elas.
Airton Maranhão é aquele menino ambicioso não de poder ou glória, mas de soltar a coisa oculta no seu peito, como diz a prosa de Drummond, que poderia muito bem ter sido feita para ele.