sábado, 9 de outubro de 2010

CINEMA DOCUMENTAL.






O cinema documental e seus resgates.
Por Sheyla Castelo Branco

O Documentário é um gênero cinematográfico que se caracteriza pelo compromisso com a exploração da realidade. Esse gênero vive hoje, uma verdadeira efervescência tanto na produção como na pesquisa. Apesar de ainda não desfrutar dos grandes investimentos da indústria cinematográfica, nem tampouco obter o sucesso comercial de alguns filmes o número de produções tem crescido, chegando às salas de cinema mundo afora.
Segundo o premiado cineasta francês Jean-Claude Carriére “ a realidade não é suficiente, o imaginário precisa introduzir-se na realidade, desfigurá-la e intensificá-la”, mas a sensação que temos ao assistir UMA NOITE EM 67 e MASSAFEIRA LIVRE (festival de amostragem), é de que a realidade é tudo que precisamos para estar presos a uma cadeira , com o queixo caído assistindo ao que uma geração foi capaz de fazer usando apenas a arte, a música e a vontade de criar.
UMA NOITE EM 67, é um documentário dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil, ambos profissionais inseridos no mercado de trabalho.Para Ricardo que é diretor de redação da revista Trip e crítico de cinema da Folha de S. Paulo, eles fizeram um documentário que não dá muitas respostas prontas, opiniões fechadas. Mas uma experiência. A pessoa Não vai sair de lá sabendo de tudo sobre o que aconteceu na época, mas se interessará por aquilo a partir do filme, afirmam.
O documentário mostra os bastidores do 3º Festival de Música Popular Brasileira, que ficou conhecido como o melhor festival de todos os tempos. Nessa mesma época entrava em cena na música brasileira o pop, que misturava o erudito e o popular e discutia questões estéticas e políticas. Era o tempo de revolucionar, tanto na música como nas roupas e no comportamento. Um exemplo foi Gilberto Gil, que antes de se apresentar com a música “domingo no Parque”, teve um ataque de pânico, pois não sabia de que lado se posicionar, estava dividido entre as canções de protesto e o protesto colorido de Caetano, o tropicalismo.
Já em MASSAFEIRA LIVRE (festival de amostragem), temos um documentário de 19 minutos,com a direção de Robério Araújo, incluindo entrevistas com intelectuais, cantores ,compositores e artistas da época, foram entrevistados o historiador Wagner Castro, Rosemberg Cariry, Ednardo Rodger Rogério, Augusto pontes, Teti , Rogério , Régis Soares, Gentil Barreira, Siegbert Franklin, Lúcio Ricardo, Alano de Freitas e Oswald Barroso.
“Eu fazia parte dos movimentos de contra-cultura, e fui convidado a participar das reuniões que antecederam a Massafeira, eram reuniões muito vivas,muito agitadas, que juntavam toda a galera que queriam fazer uma cultura independente, uma cultura expressiva.” Afirma Oswald. Para Augusto Pontes, idealizador do evento junto com Ednardo, “A Massafeira surgiu da existência de uma certa tradição musical, pois o núcleo fundamental da Massafeira era o teatro e a música,principalmente música.”
Massafeira Livre aconteceu no Ceará, em 1979, o Teatro José de Alencar abriu suas portas durante 4 dias, para mais de 400 artistas, dentre músicos, poetas, atores, dançarinos, artistas plásticos, fotógrafos e cineastas, engajados em apresentar suas manifestações artísticas autorais. Foi um movimento cultural coletivo, que envolveu um grande público e revolucionou o conceito das apresentações tradicionais. Foi na Massafeira que se obteve o primeiro registro de voz do grande poeta Patativa do Assaré, recitando “Seu Dotô”. Foram quatro dias de muita energia, em todos os cantos tinha-se amostras de arte de todas as formas,foi uma espécie de curadoria espontânea, o que ocorreu naquela época.
Atualmente foi feito um encontro no Teatro José de Alencar, que aconteceu de 18:00 até as 6:00, foram várias apresentações, audiovisual, músicas, teatro, dança, dentre outros. Sobre esse intercâmbio com o novíssimo Pessoal do Ceará, Ednardo acredita que é importante que os artistas de sua geração se envolvam musicalmente com os atuais e trabalhem juntos também nos palcos. “Creio que os integrantes do ManiFesto vão dar uma gigantesca contribuição ao evento, com o mesmo entusiasmo que ocorreu na Massafeira”, aposta o compositor. “É uma nova galera que está surgindo e pode dar continuidade ao espírito da Massafeira, essa energia de estoque que o sol tem para se pôr e nascer no dia seguinte”.
É interessante como as linguagens dialogam umas com as outras, e como o tempo passa rápido, após 31 anos da MASSAFEIRA e 43 do Festival de música de 67, temos pessoas que se interessam por resgatar esses importantes acontecimentos. E que de alguma forma deixam para a posteridade acontecimentos que fizeram história. É o cinema resgatando a história de um povo que é feliz, mesmo convivendo com a dor, um povo que ri, que canta, que cria, que luta, e principalmente que faz história.

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